terça-feira, setembro 23, 2008

Porque o tio Sam não me paga uma breja

Na capa da Veja dessa semana, aparece um Tio Sam apontando e a frase "Eu salvei você". É verdade que o Fed ajudou os bancos ianques, contendo um pouco a crise econômica significativa desse final da era W. Bush. Entretanto, apontar na cara de qualquer cidadão do mundo me parece exagerado.

Antes de mais nada, deixo claro que não sou movido por nenhum anti-americanismo. Admiro muita coisa feita pelos E.U.A., gosto de muitos produtos culturais americanos, principalmente. Claro, acho o americano médio mais boçal que a média mundial, mas os americanos brilhantes conseguem, com méritos, fazer do país a potência que é.

Mas voltando à economia, claro que uma crise econômica severa na maior economia do mundo afeta outras partes. Mesmo crises em países asiáticos menores em 1997 ou na Rússia em 1998 fizeram o globo prender sua respiração. Mas daí a fazer uma capa com um Tio Sam dizendo que me salvou, já é demais. Quem sabe o FED não está preparando um pacote para socorrer o papai aqui da crise. Até agora não vi nada mudar na minha vida.

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quinta-feira, setembro 11, 2008

A síndrome de Robin Hood

Em uma das partidas mais monótonas da seleção nos últimos tempos (nos quais não faltaram partidas assim), a Bolívia arrancou um empate no Engenhão, no Rio de Janeiro, em 0 a 0. Já durante o jogo de domingo, contra o Chile, começou meu temor quanto a ver a seleção jogando contra um time retrancado, puramente defensivo. Mas se times assim sempre se dessem bem, a Itália nunca tinha perdido uma Copa do Mundo.

Concordo com o grande PVC no sentido de uma reformulação de estilo de jogo da canarinha. Jogadas mais velozes como tabelas ou mesmo mais chutes de longa distância seriam muito mais inteligentes contra equipes que jogam mais recuadas e marcando pesado. A seleção está padecendo de um mal parecido com o que o Arsenal sofreu a partir do meio da temporada passada na Premiership, fazendo boas apresentações contra times mais leves e adeptos de jogo franco e decepcionando contra esquadras montadas mais defensivamente, ainda que fracas tecnicamente. Uma pena.

Continuando o post sobre as eliminatórias, tivemos nas duas rodadas iniciais alguns excelentes jogos, como Áustria 3 - 1 França, com os alpinos mostrando um futebol interessante e uma equipe cheia de jovens, comandada pelo bom técnico tcheco Karel Brückner. Outro belo jogo, especialmente em seus derradeiros minutos foi Portugal 2 - 3 Dinamarca, no qual os lusos mostraram ter um time de talento, mas sem concentração e os daneses mostraram determinação e força física elogiáveis. A recuperação do Chile contra a Colômbia e a bela vitória inglesa em Zagreb, sobre os carrascos croatas (Fabio Capello não assume time nenhum para perder, meus caros) também merecendo destaque.

No momento estou assistindo Peru e Argentina, em Lima. Jogo brigado, catimbado, no estilo Libertadores. Muitos apostariam em um 0-0, mas eu cravaria um jogo com pelo menos dois gols.

Domingo, após o Grande Prêmio da Itália, mais um post deste que vos escreve. Minha vida pessoal anda bastante mutável, motivo para me esquivar de escriptos sobre a mesma.

terça-feira, setembro 09, 2008

Desobediência Civil

No último fim de semana, Felipe Massa venceu o Grande Prêmio da Bélgica, disputado no circuito de Spa Francochamps, preferido da esmagadora maioria dos pilotos pela variedade de seu percurso de pouco mais de 7 kilômetros de extensão. Até aí muito bom, muito legal, mesmo porque faz alguns brasileiros acima dos 20 anos (como eu) recordarem-se das grandes exibições de Ayrton Senna, vencedor de 5 corridas nas Ardenas.

Entretanto, o que mais chamou a atenção foi a punição a Lewis Hamilton, vencedor da prova "na pista", em conseqüência de bela ultrapassagem sobre Kimi Raikkonen. Após ter cortado caminho na curva bus-stop para não colidir com o finlandês, Hamilton deixou o rival ultrapassá-lo para, na curva seguinte, a lenta la Source, aplicar um lindíssimo drible e recuperar a ponta. Por uma interpretação teleológica do regulamento, seria possível concluir que o resultado na pista seria o final. Entretanto, a intepretação gramatical do estatuto esportivo da FIA corrobora com a visão dos fiscais de prova, que deduziram 25 segundos do tempo final de Hamilton.

Estou longe de ser um fã de Hamilton, um piloto superestimado e que nunca precisou pastar numa equipe pequena da Formula 1 antes de estar na McLaren, sempre uma potência. Mas dessa vez, creio que a lei funcionou para limar a ousadia tão procurada nos últimos anos pela categoria. Isso serve para provar que nem só o Brasil vive de anacronismos legais. Até mesmo a federação reguladora de um esporte composto em sua maioria por gente endinheirada e esclarecida acaba pecando algumas vezes por querer abraçar todos os cenários possíveis e imagináveis com seus parcos textos legais. Leis estão aí de vez em quando para serem desobedecidas.

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O sebastianismo como herança destrutiva do Brasil

Em adendo ao post anterior, vou especular sobre mais uma faceta da cultura brasileira: o fato de personalizar a salvação. Nunca do Brasil tivemos partidos políticos sérios, realmente vistos como uma agremiação de pessoas com pensamentos mais ou menos uniformes. Vota-se no Lula, no FHC e no Collor, e não no PT, PSDB ou no PRN. Vota-se no Maluf, no Alckmin, no Kassab, e não no PP (essa é atual sigla do velho PDS?), no PSDB ou no DEM.
Especulo ser herança do sebastianismo. A salvação da lavoura é sempre uma pessoa intangível (não raro somente uma imagem fraudada), com poderes amplos, mas nunca a própria pessoa comum.
Arraigado na nossa cultura da maneira que está, não vejo solução... ou será que estou lendo muito Schopenhauer?
Saiu na Folha do final de semana que os candidatos a prefeitos de São Paulo fizeram cirurgias para parecerem mais "apresentáveis" (digamos assim). Já que nunca se concretizam mesmo as propostas de campanha (quando essas existem), seria melhor que as eleições virassem de uma vez concurso de miss.

quinta-feira, setembro 04, 2008

Ensaio sobre o homem médio brasileiro e a sociedade em que vive

Hoje veio um repórter de um jornal local me entrevistar. Não dei entrevista. Não dou entrevista. Sei que não vendo jornal.

Pois bem, a curiosidade do jornalista era específica, mas vou falar do assunto em um sentido mais amplo.

Costumamos ouvir que o Brasil é subdesenvolvido porque aqui era uma colônia de exploração de Portugal, e os Estados Unidos, por exemplo, eram colônia de povoamento.

Hoje leio na Veja (edição 2076 - 3.9.2008), nas páginas amarelas, a entrevista de James Roberts, coordenador do índice de Liberdade Econômica da Heritage Foundation. Nesse ranking, sete dos dez países mais bem colocados no ranking foram colônias inglesas. Salienta o entrevistado que "é uma tradição inglesa e do norte da Europa ter governos limpos, transparentes e responsáveis". Na América Latina, por outro lado, o entrevistado identifica a prática do "capitalismo de comparsas", no qual o governo e seus amigos sobrecarregam a população com burocracia e tributos com objetivo de massacrar empreendedores.

Hoje também, conversando com um amigo finlandês pelo MSN, ele me disse que teve que parar o carro pois tinha uma mulher deitada na estrada. Por algum motivo a mulher estava em estado de choque, e só conseguia falar o endereço dela. Não lembrava o celular do marido. Meu amigo a levou para o endereço e, como ela estava sem as chaves do casa, ele entrou na casa por uma janela e abriu a porta por dentro. Depois disso tudo eu repliquei: "você é louco?! Ela poderia ser uma ladra. Aqui no Brasil eu não pararia; no máximo ligaria para o 190". Ele me respondeu que se ele não parasse, poderia até mesmo ser processado criminalmente pelo fato. Até solicitei a esse meu amigo que me encaminhasse o texto legal que traz esse dever. Ele ficou de procurar. Fica para um outro post.

Bom, mas o assunto que vou tratar aqui é como o brasileiro admite as pequenas ilegalidades do dia-a-dia, não percebendo que ele faz parte de um todo, que culmina nas ilegalidades maiores.

O brasileiro médio vai no camelô, compra um DVD pirata, acerta uma demissão fajuta com o seu patrão, com o fito de sacar seguro-desemprego, repassa moeda falsa que recebeu de boa-fé, pede para um amigo seu funcionário público dar um "jeitinho". E tudo fica por isso mesmo.O governante que ele vota desvia recursos e como ele sonegou um tributo aqui e ali, e sacou indevidamente o seguro-desemprego, o Estado – com sua inerente ineficiência - não tem recursos para fiscalizar propriamente o fato. O dinheiro do vendedor de DVD pirata, obviamente não declarado, é fluxo de caixa para nada mais, nada menos que uma organização criminosa, que compra armas e com ela mata policiais e controla alguma favela no Rio de Janeiro. A tributação é alta porque se sonega gigantescamente...

Não sei exatamente o que o brasileiro precisa para que - usemos essa metáfora - pare na estrada e ajude ao próximo. Fosse uma dissertação da 5a série, eu continuaria o texto com a seguinte fórmula: “é preciso que as pessoas se conscientizem...”. Mas a questão é mais séria que uma mera conscientização. É um autoreconhecimento de cultura. Não sei se lhe falta religião séria, se lhe falta repressão estatal ou se simplesmente, para o brasileiro, o crime é um fenômeno normal e que a sociedade absorve naturalmente o ilícito. Nesse caso, o Brasil seria o paraíso experimental dos abolicionistas do direito penal. Nossos sistemas penais estão baseados em um sistema romano-germânico que parece funcionar para aqueles países. O fato é que, nesse modelo, copiado para cá, e com as brechas tupiniquins maliciosamente feitas para que os amigos do rei não sofram reprimendas (vamos lembrar que em casos de crime tributário, o mero parcelamento do tributo impede a ação penal), os únicos que cumprem pena no Brasil são os que são presos em flagrante (normalmente por crimes mais graves, como roubo, tráfico de drogas, homicídio) e os que cometem os crimes de menor potencial ofensivo. Estes, inclusive, cumprem pena sem propriamente um processo. É feita uma transação penal, ou ajusta-se uma suspensão do processo, onde o sujeito paga um salário mínimo ou cesta básica, ou prestação de serviços a comunidade. Todos os demais conseguem empurrar o processo para que o crime prescreva antes de um julgamento final. O auto reconhecimento das peculiaridades brasileiras permitiria a criação de um sistema próprio de vida; uma decisão sobre o que deve ser relevante e no que devemos ser permissivos.