segunda-feira, maio 22, 2006

Aos caros amigos

"What would you think if I sang out of tune
Would you stand up and walk out on me?
Lend me your ears and I'll sing you a song
And I'll try not to sing out of key
Oh I get by with a little help from my friends
Mm I get high with a little help from my friends
Mm going to try with a little help from my friends"
The Beatles - With a little help from my friends - 1967

Tenho me sentido estranhamente disposto ultimamente. Uma disposição que pelo menos há uns bons 7 meses eu não sentia. Mas o que há de realmente diferente nesse comportamento é que eu não tenho nenhuma PESSOA levando-me a tomar uma postura mais ativa frente a vida. E, como os que me conhecem podem atestar, normalmente eu faço MERDA quando estou disposto a agir por querer agradar alguém.

Não sei se foi a idade, não sei se foi a calma na vida escolar/profissional (apesar de eu ter freqüentado a Faculdade como só fazia no primeiro ano - e naquela época, querendo agradar alguém) ou uma simples vontade de ficar de bem comigo mesmo pelo presente. Sei que minha vida anda mais calma, tranqüila e muito mais divertida.

Eu tenho ido menos a baladas. Na época que eu trabalhava (até 2 meses atrás), eu fazia em média três baladinhas por semana. Mais um dia ou dois de beberronices com alguns amigos em um bar qualquer. Não que seja ruim fazer balada ou sair com os amigos pra tomar umas cervejas e conversar. Quando a pessoa faz isso para seu own sake, é salutar. Amigos são sempre bons para nos deixar para cima ou manter-nos felizes. E também porque você pode ajudá-los a alcançar a felicidade. Mas eu acho que o contato com as 5 pessoas que realmente praticavam esse saudável intercâmbio que é a amizade comigo raramente ocorria em mesas de bar.

A coisa estava indo em um rumo complicado: eu tava bebendo demais, chapando demais, me divertindo de menos, enchendo o saco demais, chorando demais e destruindo meu corpo e mente demais com essa maneira de agir. Muito por decepções comigo mesmo quando eu tomei posturas ativas em momentos errados e da maneira errada. Mas deu o clique. Fazia tempo que eu não fazia só 5 baladas num período de 1 mês (todas elas bem sussa por sinal). Não enchi a cara em nenhuma, me diverti em todas, conversei com os amigos, acho que ouvi dois ou três deles e fui de ajuda razoável em problemas parecidos com casos anteriores meus (Deus salve a Jurisprudência); e, principalmente, me sinto tremendamente feliz com os resultados. E eu não tive que ficar com nenhuma morena linda e boazinha que acha que Fernando Pessoa tinha e-mail e nem com uma semi-balzaquiana com corpo perfeito, que precisa de alguém que faça ela se sentir melhor.

Assim, no resto dos dias, eu me sinto muito bem disposto para manter a alegria, que definitivamente não é efêmera. Tenho malhado mais e melhor, lido mais atentamente (quando mal de cabeça eu leio muito, mas absorvo muito menos), comido menos, sorrido mais, brigado e discutido menos e, o que para mim é importantíssimo, sendo uma pessoa agradável e útil para quem eu amo. Incluindo aí eu mesmo, amigos, partes da família e, por que não dizer, também ideais e conceitos de justiça.

Eu acho provável que seja um amadurecimento que veio com meus 20 anos. A ficha caiu. Cada decisão que eu tomo hoje pesa muito mais do que qualquer decisão que eu tomava com 10 anos. Um ato meu pode ser muito mais preponderante para meu futuro profissional, amoroso e físico/psíquico do que antigamente. Eu acredito que a fase dos 20 aos 30 anos seja a mais importante da vida de uma pessoa na construção de sua vida futura como um todo. Porque os atos dela são muito mais importantes. Temos um poder maior de fazer sofrer ou sorrir, estamos no auge físico e cognitivo. E assim como podemos com mais facilidade provocar sorrisos e tristezas alheias, podemos provocar sorrisos e choros próprios.

E como é delicioso ter o poder de mudar tantas vidas, tantas coisas. Como é bom deter o poder de controlar cada vez melhor seu próprio futuro e ajudar a construir o futuro coletivo. Como é bom poder ser nós mesmos. As dificuldades em controlar esses poderes são enormes, as responsabilidades também. Mas com um pouco de ajuda de quem eu amo e ajudando a todos eles, tenho sentido que meu futuro pode ser muito mais interessante do que imaginava.

Aos amigos que ouviram mais do que foram ouvidos, que viram mais lágrimas do que lacrimejaram e que estiveram sempre ao meu lado (mesmo que fisicamente distantes), meu mais cordial agradecimento. E também a desculpa por não ser um amigo, mas simplesmente um fardo. Amizade não é um exercício unilateral. E eu prometo ser amigo como todos vocês foram quando precisei, não importa aonde estiverem ou qual for seu problema. Eu sei que tenho o poder de ajudar.