quinta-feira, maio 12, 2005

Inimigo íntimo

"O que é verdadeiramente imoral é ter desistido de si mesmo." (Clarice Lispector)

Muitas vezes dizem que eu filosofo demais em tudo que falo. Que qualquer conversa normal comigo torna-se freqüentemente uma discusssão profunda. Não sei se é verdade mas... ao dizer que eu sou extremamente filosófico, será que as pessoas estão fazendo um conceito certo? É, acho que não...Mas muitas vezes, eu admito, eu gosto e muito de ser considerado um filósofo da zona (ou um eufemismo para chato). Interessa pra mim que façam um juízo errado, que me subestimem. Assim fica mais fácil surpreender, com qualidades ou até defeitos que estejam ocultos.

Não posso dizer que todos os seres humanos são assim, mesmo porque meu campo amostral de seres humanos tem, se muito, umas 10 mil pessoas, das quais umas 50 eu posso dizer que consigo prever boa parte dos movimentos, mesmo que elas não sejam, como eu não sou, o que aparentam. As pessoas estão cada vez mais perdendo a espontaneidade, temos padrão para tudo: beleza, vestuário, comportamento, trabalho e por aí afora. Daí, fica fácil prever todos os passos: serão os mesmos que toda a sociedade dá em rumo a uma felicidade de caráter duvidoso - pois não é o conceito particular de felicidade.

Posso me definir talvez como um Janus, (Deus romano bifronte) que tem facetas completamente diferentes, o problema é que eu tenho comportamentos completamente diferentes (muitos deles dissonantes do que eu tenho como convicção) e não são só dois, mas pelo menos 4, dependendo do ambiente. Na faculdade, é um, em casa, outro, no trabalho, outro ainda e na zona, um completamente distinto.

Sempre achei que minha "face" mais próxima de um alter ego estava na zona. Zoeira, bebedeira, uma ou outra guerra. Isso me fazia ficar bem, disposto. Mas, pasmem, tenho descobrido no trabalho uma face na qual sinto-me bem mais confortável. E ela tem me surpreendido: esforço, humildade e me permitir alguns erros nunca foram práticas muito comuns na minha vida, em parte pelo que desenvolvi como auto defesa pela minha criação, em parte por sempre ter ouvido fora de casa que tinha um potencial anormal. Aqui finalmente eu tou vendo que meu potencial pode realmente ser assustador, mas que não consigo me desenvolver sem ouvir os outros, entre conselhos, correções, elogios. Não dá pra fazer as coisas só lendo ou tendo apenas raça ou disciplina ao procurar as coisas sozinho. Isso, é verdade, ajuda muito, mas o grande fator de crescimento aqui dentro parece ser um bom network.

A simpatia pode contar mais do que o talento. Na minha opinião, justo. As pessoas nascem com ou sem talento, já a simpatia, o contato respeitoso ou até amistoso com outras pessoas pode ser desenvolvido. Acredito piamente nisso porque sinto que ando crescendo não por aumentar meu talento, visto que ninguém pode aumentar talento durante a vida, mas sim por desenvolver qualidades que podem ser desenvolvidas: disciplina, simpatia e, acima de tudo, humildade.

Ser autêntico é buscar o melhor para si. Isso com certeza me faria muito melhor como pessoa, mas eu tenho um inimigo ineperado: eu mesmo. Meu alter ego seria o Phoenix que busca a perfeição como amigo, colega, parente, co-cidadão e, principalmente, consigo mesmo.

O desafio de alcançar o máximo que posso nestes quesitos sem dúvida nenhuma é muito maior do qualquer teste, muito mais difícil que conquistar qualquer mulher. É difícil para mim, que sempre me considerei meio arrogante, meio prepotente, procurar a sonhada humildade. A disciplina para alguém que conseguiu muita coisa com mais facilidade do que deveria é também uma espécie de Everest. Difícil de alcançar. Simpatia as pessoas têm quando são sinceras com seus sentimentos, sem apresentarem desdém pelo sentimento alheio, pelo menos no caso do homem social, que gosta de ter o maior número de boas relações possíveis.

Ao esconder qualidades, damos a chance de nossos adversários nos subestimarem. Quando as mostramos depois disso, o efeito costuma ser bem mais sensível.

Sou apaixonado por desafios e afirmo: temos, sempre, nosso maior adversário no âmago de nosso ser.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Filosofar é bom... questionar, pensar, não aceitar a ordem pré-estabelecida... uma das razões pelas quais gosto de vc... vc reflete e reage ao mundo...

Kss

terça-feira, maio 24, 2005 5:10:00 PM  

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