terça-feira, maio 03, 2005

Cicatrizes e o que importa na vida

"Somos todos viajantes pelas agruras do mundo, e o melhor que podemos achar em nossas viagens é um amigo honesto. "(Robert Louis Stevenson)

É difícil se sentir impotente em alguma situação. Não foi muito comum na minha vida me sentir assim, mas quando me senti, foi duro. Mas sinto agora que eu era, por exemplo, impotente diante da criação no mínimo errônea que meus pais me deram.

Explica-se: sempre tive o que dava no aspecto financeiro, não vou negar. Mas não lembro de quando meu pai ou minha mãe vieram conversar da vida em geral comigo, mesmo perguntar como eu estava, o que estava aprendendo, coisas comuns em qualquer lar. Basicamente eu era exigido: nota ou castigo, nota ou surra.

Nunca fui o cara mais estudioso do mundo, um defeito, não nego. Gostaria de ser daqueles que se empolga na frente de cálculos ou de livros de química. Não é assim, apesar deu levar jeito para aprender qualquer coisa, especialmente na área de humanas. Nunca fui dos piores alunos em termos de notas, apesar de em certos momentos ter sido indisciplinado ao extremo (até hoje não sou dos que mais gosta de ordens, algo que é bom mudar rápido, tendo em vista meu emprego).

Mas voltando, eu, claro, não conseguia manter as notas altas não estudando. Resultado é que passei mais de 3/4 da minha adolescencia e final de infancia de castigo. Nunca apelei pra drogas ilícitas, nada. Álcool de vez em quando, cigarro e olhe lá. Mesmo assim, em pequenas quantidades, tudo. Mas muito do que eu tinha de bom foi se perdendo.

Não sou mais tão otimista como era, o que acaba me deixando chato em muitos momentos, não penso mais tanto no coletivo, mas no individual, quase sempre. Tem ainda um medo enorme de me decepcionar com as pessoas, que me faz ser muito, mas muito desconfiado.

Meus pais erraram querendo acertar? Certeza que sim. Mas não é um erro legal ainda por cima porque não admitem

Seria errado jogar todos os meus defeitos nos ombros deles, tenho uma grande culpa de não ter sido forte suficiente, mas alguma marca, isso tinha que deixar...e deixou: raiva de autoridade em geral, medo de me decepcionar com quem eu gosto.

Muito disso tem melhorado, é claro. Não seria digno de estar vivo se não superasse os problemas. Mas que meus pais fizeram um mal danado, fizeram.

Amigos me deixam pra cima ao elogiar e serem as pessoas que eu converso. Elogiam quando eu mereço, criticam quando eu faço besteira. Por isso, meus amigos são muito mais do que família (apesar da minha melhor amiga estar na minha família). São o que consegue manter o equílíbrio em mim, me deixar um pouco mais feliz e bem menos cético em relação às pessoas que eu amo.

Meus amigos me fizeram ver que tem gente que vale muito a pena. Me aceitam com meus defeitos, me ouvem, me fazem rir quando estou triste.
Enfim, meus amigos fazem a minha vida.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Sweetie, seus pais podem não terem agido como você acha que deveriam. Podem ter dado apenas suporte material e negligenciado na parte emocional, mas talvez, eles tenham feito o melhor que poderiam. Têm pessoas que simplesmente não sabem agir em face de determinadas situações. Seus pais não são os únicos. Ainda mais diante de um mundo atual onde só se vive para o trabalho, onde não se tem tempo para nada. Você já parou para pensar que talvez a carência que você teve no passado, em relação a eles, eles tem hoje, em relação a você? Eu penso que minha mãe poderia ter sido diferente comigo, mas poderia eu culpá-la? Sendo eu sua primogênita e tendo ela que sustentar uma casa pensando em sempre dar do melhor, para nunca faltar nada do que quiséssemos. É um erro sim o abandono emocional, mas essa foi a escolha que eles fizeram, dar as melhores condições materiais do mundo para a nossa criação. Não podemos julgá-los, nem guardar uma eterna mágoa em razão disto. Cabe a você fazer diferente com seus filhos. E quem garante que os seus filhos também não irão cobrar uma postura que eles acham que você deveria ter tido e não teve? Ninguém. Nossa única obrigação é fazer o melhor, é dar o máximo, de acordo com o que achamos ser o correto. Eu não conheço os seus pais, nem sei como foi ao certo a sua infancia, adolescência e continuação, mas posso arriscar dizer que eles devem ter feito sempre aquilo que consideravam o melhor para você, ainda que você não concordasse com isso (as pessoas em lados diferentes tem visões diferentes).
Fugir da autoridade dos pais é possível, mas é como você disse, há a hierarquia no trabalho, e sempre vai existir uma figura autoritária em nossas vidas, é, portanto, necessário saber lidar com isso. Ao menos para se viver bem na nossa sociedade.
Erros todos nós cometemos. defeitos todos nós temos. Você ter consciência do que poderia ser feito diferente, e do que não está certo na sua vida é meio caminho andado. As pessoas que te amam de verdade vão sempre te respeitar pelo que você é, e te ajudar a ser melhor e a crescer, sempre.
Comigo você sabe que pode contar, always!

quinta-feira, maio 05, 2005 8:24:00 AM  

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