terça-feira, dezembro 09, 2008

Rest in peace

Esse blog, ao longo de seus três anos de vida, já abordou algumas das auguras da vida. Desilusões, chifres, derrotas foram assuntos recorrentes por aqui.

Hoje, entretanto, vou esboçar algo sobre a maior das auguras, a morte.

Apesar de algumas vezes não parecer, nunca lidei bem com a perda de entes queridos. Um ídolo (Senna), amigos (Rafaéis, que a paz esteja com vocês aonde estiverem) e mesmo meu avô paterno morreram deixando algumas marcas. Nenhuma dessas pessoas era muito próxima de mim, daquelas que você vê todo dia. Mas, cada uma dessas perdas deixou marcas indeléveis na minha personalidade.

A morte do Senna significou a perda de um ídolo não só para mim, mas para toda uma geração. Em uma época na qual o futebol brasileiro não era vitorioso (era dominado por argentinos e uruguaios na América do Sul e não chegou a uma final de Copa sequer, entre 1970 e 1994), o automobilismo passou a ser, em parte, o ópio do povo.

Com um Piquet já veterano, minha escolha óbvia foi torcer pelo Senna, como vários brasileiros, enfrentando manhãs e madrugadas de domingos para ver suas atuações. Nos 10 anos anteriores, apenas um piloto havia morrido, em testes particulares. A morte do Senna e do austríaco Ratzemberger foi um baque. Ali aprendi que nossos heróis morrem. Todos eles, mais cedo ou mais tarde.

Perdi dois amigos meus, por coincidência homônimos, em situações diferentes, mas comuns a moleques: um em um acidente automobilístico, outro por overdose de drogas. Não foi fácil, principalmente no segundo caso: um cara brilhante, com a minha idade, falecido tão cedo, por motivo tão ignóbil. Aí percebi que juventude não exclui morte. Pelo contrário. Muitas vezes atrai. Essas mortes em especial me marcaram, me deprimiram, me chocaram. Volta e meia me pego pensando: bom, eu estou aqui. Aonde eles dois estariam, se vivos?

Perdi ainda meu avô paterno, descobrindo, de maneira não muito bacana, que amor fraternal não evita mortes. O amor não salva nada. Nem mesmo relacionamentos.
Agora estou perdendo meu avô materno, que sempre foi a coisa mais próxima que eu tive de uma figura paterna. Para as outras pessoas, sou uma das pessoas que vem lidando mais filosoficamente com a derrocada dele, mas realmente não gosto muito de imaginar como seria perder alguém próximo. Acho que um exemplo passa a te assombrar mais ainda depois de morto (trocadilho acidental)

Na morte conhecemos as pessoas. Seria interessante conhecermos o quanto nossos sentimentos não são levados em conta em falecimentos alheios.