sábado, novembro 08, 2008

Direita e esquerda

É engraçado como esquerda virou sinônimo de tudo que é bom atualmente.

De um modo imediato, a esquerda é o lado ruim da maioria das pessoas (a mim inclusive, inábil a desenhar uma casinha com a mão canhota). Sei que é o lado direito do cérebro a controlar o esquerdo, mas essa é uma relação muito mediata para o interlocutor comum. A verdade é que a dicotomia esquerda-direita (no sentido político, evidentemente) é uma classificação hoje inútil e que serve somente à dialética erística, ou seja, ao discurso desonesto.
Uma vez que está mais ou menos disseminado na população que ser de esquerda é ser bom, classificar alguém como de "direita" passou a ser o que Schopenhauer, em sua essencial obra Eristik, denominou rótulo odioso, um dos estratagemas do debate desonesto. Assim falava o mestre alemão: "Um modo rápido e eliminar ou, ao menos, de tornar suspeita uma afirmação do adversário é reduzi-la a uma categoria geralmente destestada, ainda que a relação seja pouco rigorosa e tão só de vaga semelhança".

O socialista Norberto Bobbio chegou a definir o que seria esquerda. Para ele, a esquerda é definida por uma posição igualitarista, ou seja, "não como a utopia de uma sociedade em que todos são iguais em tudo, mas como tendência, de um lado, a exaltar mais o que faz os homens iguais do que o que os faz desiguais, e de outro, em termos práticos, a favorecer as políticas que objetivam tornar mais iguais os desiguais" ( Direita e Esquerda, 2ª ed., São Paulo, Unesp,2001, p. 125).

Se por um lado uma definição desse teor é honesta, pois sujeita o autor a críticas posteriores, a realização disso ao apagar das luzes da sua vida, e depois de passado o momento histórico em que essa dicotomia teve alguma relevância, serve para tirar de suas costas o peso daquilo com com o qual não quer ele ser associado. Quem já pensou que o nazismo (nacional socialismo) nada mais é do que uma adaptação mambembe do internacional socialismo no qual não é o operário que está em seu foco, mas sim uma etnia. E o que difere isso do socialismo bolivariano indigenista que está tão em voga (e em prática) atualmente? Penso que só muda o poderio militar e econômico daqueles que pregam tais políticas (vale dizer que, para mim, qualquer política de diferenciação mediante o uso de critérios étnicos é uma política perigosa. Mas fica para outro post essa questão).

Os setores autodeclarados esquerda têm cantando a todos os ventos a vitória de Obama nas eleições norte-americanas. Será que sabem eles que o partido democrata é um balaio de gatos que tem mais ligações com a KKK do que o partido republicano? Será que sabem eles que nos EUA existe um amplo leque de partidos REALMENTE socialistas (alguns dos chamados partidos independentes)? Será que sabem eles que um democrata, para o Brasil, é SEMPRE pior? Eles sabem. Mas é sempre útil passar a imagem da vitória.

1 Comments:

Blogger RM. said...

Eu não gosto de política, mas sei o suficiente pra entender o que está escrito no texto.
Eu concordo que os conceitos de direita ou esquerda, principalmente no Brasil, se algum dia já tiveram algum significado, ele já está totalmente deturpado.
Aqui existe políticos pensando como poderiam ganhar mais dinheiro com menos gente percebendo, e só.
Até nos EUA esses conceitos já não são seguidos ao pé da letra, vide McCain.
Mas pra falar a verdade nada disso importa se o cara está fazendo algo para melhorar o mundo, o que hoje em dia, é quase impossível de acontecer em nosso país.
E agora acabou meu comentário!
Beijo Re!

quarta-feira, novembro 12, 2008 1:28:00 PM  

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