sexta-feira, setembro 01, 2006

A Savana Brasileira

Hoje escrevo um post diferente. Talvez pela chuva forte lá fora, que fez o visual ficar particularmente encantador (eu adoro dias muito chuvosos ou muito ensolarados, sempre), talvez pela briga homérica que vi no CA da faculdade ontem. O fato é que estou com vontade de escrever sobre brigas. Por mais que eu tenha me envolvido em poucas na vida (pra valer, foram duas).

Apesar de ser um cara fisicamente bem dotado e também razoável em termos de técnica (karate bem razoável), costumo ser pacífico (talvez ensinado exatamente pela doutrina do “caminho das mãos livres”) e muita gente tem curiosidade pra me ver brigar. Eu faço de tudo para evitar, com isso até aumentando essa curiosidade que mais de um conhecido meu diz que tem de me ver brigando com alguém. Desde moleque, sempre fui da turma do deixa disso. As pessoas tem mais medo do desconhecido do que do lugar-comum e quando for brigar com certeza vou me aproveitar (e muito) disso.

Como ia dizendo, ontem o tempo fechou no Porão do XI (CA da Faculdade de Direito da USP). Uma briga pequena se transformou numa sucessão de confrontos paralelos, inclusive com muita gente de fora da Faculdade envolvida. Mesmo estando acostumado a ver brigas, na quantidade de ontem era inédito. E como em geral eram brigas entre dois conhecidos meus, eu não me intrometia (quando fazia era pra separar). Muita gente me criticou por isso, mas não me arrependo. Com exceção de três casos que localizei, nenhuma briga foi daquelas que realmente comprometem a integridade física de alguém por mais de um dia.

Mas vou me ater a esses três “confrontos”:

1) Que espécie de animal me chuta em grupo de 4 (quatro) ou 5 (cinco), 1 (um) cara que está no chão, por mais merda que tenha feito? Animais medrosos, crocodilos, eu diria. Com medo de uma briga 1 a 1 e “limpa” com o cara, visivelmente melhor do que todos eles em termos tretísticos. Patético. E dizer que chamaram um cara de bicha covarde logo depois.

2) Que espécie de retardado mental chama um cara que só tava separando a briga de negro safado e espera sair bem num ambiente que é “casa” do ofendido? Acha que pode fazer isso e sair pimpão do lugar? Bem feito pro racista filho da puta que saiu todo estourado do lugar (o único que foi pro hospital, que eu saiba). Menção honrosa ainda ao ofendido que estava insano a ponto de provavelmente vir a matar o babaca, que é de uma faculdade com tradição de esquerda, democracia e igualdade (racismo é igualitário, hein wanna be comunist filho duma puta?). O racista é a hiena que foi comer carniça e acabou se fodendo na mão do leopardo.

3) Como alguém consegue ser tão inocente ao achar que depois de arremessar um copo contra o rosto de outro ser humano, que com um reflexo incomum para um bêbado escapou, não será criticado e questionado pelo seus atos? E por que, ao ser indagado, se mija de medo do cara que ele acabara de chamar de bicha covarde? A bicha virou leão e o arremessador de copos, burro.

Enfim. Depois da batalha, garotas chorando, garrafas quebradas, gente atônita por ver a inteligentsia brasileira chegar a este ponto.

Briga é um negócio por princípio sujo. Mas esse nível de crocodilagem é o que me faz me afastar delas. Como diria o Galvão sobre isso: “Tão acabando com a briga romântica, a briga ta ficando muito séria, muita coisa envolvida, perde a pureza”. E ele estaria certo falando isso. Não se tem a mínima noção de conseqüência, coisa que em teoria é inerente ao ser humano.

E, depois dessa reflexão, o que me resta é olhar para esse belo céu chuvoso de sexta aqui na Marginal e chegar à conclusão de que, enquanto imbecil desse naipe sair na mão, eu vou continuar por muito tempo deixando meus conhecidos curiosos quanto a minha performance em brigas. Afinal, a coisa anda mais próxima de uma luta numa savana. E eu não entendo nada de savana.