sexta-feira, agosto 04, 2006

World Upon Your Shoulders

O mais grave é desistir de si mesmo, já dizia se eu não me engano Clarice Lispector. Mas nunca li nada dizendo alguma coisa sobre o sentimento de frustração que realmente tenha me marcado.

Em tempos de Brasil perdendo a Copa do Mundo de Futebol com um time (pretensamente) melhor, política interna e externa parecendo sem solução e nos quais temos um leque de escolhas cada vez mais absurdo para nossas vidas, a frustração torna-se mais comum.

E é um sentimento que tem uma explicação razoavelmente bacana: a pessoa deve ter uma certa arrogância, uma pré-concepção superestimada de suas capacidades (ou capacidades de pessoas queridas) que a leva a cair do cavalo. Frustrações são decorrentes de falhas, erros ou até a percepção de que, não importa quanto lutarmos, certas metas que são alcançáveis por outros jamais o seram por nós. Por simples falta de talento suficiente. Sinceramente, acredito que quase tudo tem uma explicação exata e que a metafísica, apesar de provavelmente jamais desaparecer completamente, se apaga um pouco a cada vitória da razão.

Para dar um exemplo prático, sempre dizem que não há vitoriosos e derrotados em relações estritamente pessoais. Enganam-se. Cada sentimento que nutrimos por outras pessoas tem sua explicação. Podemos odiá-las simplesmente porque elas tem mais talento do que nós, conseguem coisas que não conseguimos. Isso é inveja e ao mesmo tempo frustração com nós mesmos por não termos tamanho talento. E alguém que consegue algo que você deseja e não alcança é um vencedor, pelo menos no caso específico.

Dizem que esforço consegue tudo, o que é visivelmente errado. Não consegue. Não adianta nada neguinho sem talento se matar de estudar, treinar, entre outras coisas que ajudam a melhorar performance. O talento é essencial para a perfeição e sem ele, é, acho, inalcançável. Quando dois talentos parecidos se confrontam, aí sim o esforço costuma fazer diferença.

Mas voltando à frustração, é um sentimento que provavelmente todo mundo experimenta durante a vida, dependendo basicamente do realismo das metas que são traçadas, da sensibilidade de cada um a lidar com situações de fracasso, falha e decepção. Muitas vezes o excesso de talento vem acompanhado de uma arrogância tão espetacular e um projeto de vida tão megalomaníaco, que os agraciados pelo talento acabam se transformando em pessoas frustradas e rancorosas, por traçar para si mesmas objetivos inalcançáveis. E nem sempre a frustração é inveja. Pode ser uma decepção consigo mesmo, independente de terceiros serem mais ou menos competentes na execução de seus objetivos.

E esse é o pior tipo de frustração. A frustração por ser derrotado dói, traz um misto de ódio e admiração pelo que foi mais capaz, mas não decorre diretamente de um erro ou de uma falha sua. Para isso, é interessante o filme Amadeus, que narra a história de um contemporâneo de Mozart, diga-se de passagem também talentoso, que tinha esse misto de admiração e raiva do grade gênio por sua capacidade expetacular.

A pior decepção é a decepção que temos com nós mesmos. O ser humano não gosta de errar e menos ainda assumir que errou. Ninguém gosta de colocar o mundo nos próprios ombros.