quarta-feira, maio 25, 2005

A guerra enobrece o homem?

" Tudo que posso vos oferecer é sangue, trabalho lágrimas e suor"
Winston Churchill - 13 de maio de 1940

Já mencionei em algum post anterior que são problemas que fazem pessoas que valem a pena crescer. Pois bem, inúmeras frases de "sabedoria popular" encaixam-se neste conceito vide a frase acima e "Na dificuldade, conhecemos o homem".

Volta e meia acho nossa época meio sem graça, vazia.

Muitas vezes converso com gente muito vivida, na faixa dos 70, 80 anos. Eles lembram de uma época na qual mesmo o Primeiro Mundo passava por situações realmente perigosas: Bolsas quebrando, desemprego disparando, Guerras que mataram uns 80 milhões explodindo. E causa até certo espantamento perceber que muitas pessoas parecem sentir falta daqueles tempos. "Naquela época não era essa hipocrisia: guerra, era guerra mesmo. Crises econômicas, eram crises severas, não isso aí que temos hoje em dia. Realmente tinhamos conhecimento do caráter de cada pessoa."

Muitos até podem argumentar que hoje vivemos emuma época com sofrimentos sem precedentes na história da humanidade. Com a excessão de alguns (mesmo assim poucos) países da África, cuja população somada eu duvido muito que passe de 300 milhões de habitantes (vale lembrar que isso é mais ou menos um vigésimo da população mundial), não creio que seja verdade. E creio que pode deixar os seres humanos acomodados. No Primeiro Mundo, não há grandes preocupações sociais ( certa feita, li que na Noruega o grande debate era quanto a velhinhos em asilos e na Alemanha, um ou outro grupo de Skinheads que tinham ações racistas frente à imensidão de imigrantes que aparecem e são efetivamente necessários por lá), assim, a mídia mais influente e as pessoas que realmente dominam uns 85 % da renda do mundo não tem grandes preocupações. E começam a reclamar de estômago cheio. Creio que a parcela mais rica da população brasileira está na mesma situação.

Cazzo! Não estou dizendo que não possamos evouluir. Mas reclamar dizendo que essa é nossa pior época em termos de sofrimento? Não concordo. Vejam o começo do século XX, final do século XIX. Aí sim a coisa pegava a valer e, mesmo assim, viámos a ciência e as artes florecendo como nunca. Realmente estranho. Será que precisamos de uma outra Era dos Extremos (que, discordando do Hobsbawm, mui humildemente coloco entre 1914 e 1962) para ver que nossa época não é tão ruim assim sob esta ótica? Será que precisamos de uma guerra ou de crises financeiras dignas desse nome (vale lembrar, o número de desempregados na França por exemplo, aumentou em umas 10 vezes em 5 anos depois do Crash de Nova York. Isso é que é tensão) para evoluirmos nossa ciência e artes? Precisamos de problemas grandes para ajudarmos vizinhos, conseguirmos soluções conjuntas, chorarmos e sorrirmos com sinceridade?

Para completar, fica cada vez mais difícil conhecer o real caráter de muitos indivíduos. Não somos sinceros nem com nós mesmos muitas vezes (me incluam aí), quanto mais mostrar nosso real valor? Esse jogo de intriguinhas, tribos... escapei de viver numa época com Guerras para viver numa época de falsidade?

Gostaria de acreditar que o ser humano não é tão ignóbil a ponto disso. Mas infelizmente, começo a concordar que ao menos o espírito humano há muito tempo não passava por tão severa crise.

quinta-feira, maio 12, 2005

Inimigo íntimo

"O que é verdadeiramente imoral é ter desistido de si mesmo." (Clarice Lispector)

Muitas vezes dizem que eu filosofo demais em tudo que falo. Que qualquer conversa normal comigo torna-se freqüentemente uma discusssão profunda. Não sei se é verdade mas... ao dizer que eu sou extremamente filosófico, será que as pessoas estão fazendo um conceito certo? É, acho que não...Mas muitas vezes, eu admito, eu gosto e muito de ser considerado um filósofo da zona (ou um eufemismo para chato). Interessa pra mim que façam um juízo errado, que me subestimem. Assim fica mais fácil surpreender, com qualidades ou até defeitos que estejam ocultos.

Não posso dizer que todos os seres humanos são assim, mesmo porque meu campo amostral de seres humanos tem, se muito, umas 10 mil pessoas, das quais umas 50 eu posso dizer que consigo prever boa parte dos movimentos, mesmo que elas não sejam, como eu não sou, o que aparentam. As pessoas estão cada vez mais perdendo a espontaneidade, temos padrão para tudo: beleza, vestuário, comportamento, trabalho e por aí afora. Daí, fica fácil prever todos os passos: serão os mesmos que toda a sociedade dá em rumo a uma felicidade de caráter duvidoso - pois não é o conceito particular de felicidade.

Posso me definir talvez como um Janus, (Deus romano bifronte) que tem facetas completamente diferentes, o problema é que eu tenho comportamentos completamente diferentes (muitos deles dissonantes do que eu tenho como convicção) e não são só dois, mas pelo menos 4, dependendo do ambiente. Na faculdade, é um, em casa, outro, no trabalho, outro ainda e na zona, um completamente distinto.

Sempre achei que minha "face" mais próxima de um alter ego estava na zona. Zoeira, bebedeira, uma ou outra guerra. Isso me fazia ficar bem, disposto. Mas, pasmem, tenho descobrido no trabalho uma face na qual sinto-me bem mais confortável. E ela tem me surpreendido: esforço, humildade e me permitir alguns erros nunca foram práticas muito comuns na minha vida, em parte pelo que desenvolvi como auto defesa pela minha criação, em parte por sempre ter ouvido fora de casa que tinha um potencial anormal. Aqui finalmente eu tou vendo que meu potencial pode realmente ser assustador, mas que não consigo me desenvolver sem ouvir os outros, entre conselhos, correções, elogios. Não dá pra fazer as coisas só lendo ou tendo apenas raça ou disciplina ao procurar as coisas sozinho. Isso, é verdade, ajuda muito, mas o grande fator de crescimento aqui dentro parece ser um bom network.

A simpatia pode contar mais do que o talento. Na minha opinião, justo. As pessoas nascem com ou sem talento, já a simpatia, o contato respeitoso ou até amistoso com outras pessoas pode ser desenvolvido. Acredito piamente nisso porque sinto que ando crescendo não por aumentar meu talento, visto que ninguém pode aumentar talento durante a vida, mas sim por desenvolver qualidades que podem ser desenvolvidas: disciplina, simpatia e, acima de tudo, humildade.

Ser autêntico é buscar o melhor para si. Isso com certeza me faria muito melhor como pessoa, mas eu tenho um inimigo ineperado: eu mesmo. Meu alter ego seria o Phoenix que busca a perfeição como amigo, colega, parente, co-cidadão e, principalmente, consigo mesmo.

O desafio de alcançar o máximo que posso nestes quesitos sem dúvida nenhuma é muito maior do qualquer teste, muito mais difícil que conquistar qualquer mulher. É difícil para mim, que sempre me considerei meio arrogante, meio prepotente, procurar a sonhada humildade. A disciplina para alguém que conseguiu muita coisa com mais facilidade do que deveria é também uma espécie de Everest. Difícil de alcançar. Simpatia as pessoas têm quando são sinceras com seus sentimentos, sem apresentarem desdém pelo sentimento alheio, pelo menos no caso do homem social, que gosta de ter o maior número de boas relações possíveis.

Ao esconder qualidades, damos a chance de nossos adversários nos subestimarem. Quando as mostramos depois disso, o efeito costuma ser bem mais sensível.

Sou apaixonado por desafios e afirmo: temos, sempre, nosso maior adversário no âmago de nosso ser.

terça-feira, maio 03, 2005

Cicatrizes e o que importa na vida

"Somos todos viajantes pelas agruras do mundo, e o melhor que podemos achar em nossas viagens é um amigo honesto. "(Robert Louis Stevenson)

É difícil se sentir impotente em alguma situação. Não foi muito comum na minha vida me sentir assim, mas quando me senti, foi duro. Mas sinto agora que eu era, por exemplo, impotente diante da criação no mínimo errônea que meus pais me deram.

Explica-se: sempre tive o que dava no aspecto financeiro, não vou negar. Mas não lembro de quando meu pai ou minha mãe vieram conversar da vida em geral comigo, mesmo perguntar como eu estava, o que estava aprendendo, coisas comuns em qualquer lar. Basicamente eu era exigido: nota ou castigo, nota ou surra.

Nunca fui o cara mais estudioso do mundo, um defeito, não nego. Gostaria de ser daqueles que se empolga na frente de cálculos ou de livros de química. Não é assim, apesar deu levar jeito para aprender qualquer coisa, especialmente na área de humanas. Nunca fui dos piores alunos em termos de notas, apesar de em certos momentos ter sido indisciplinado ao extremo (até hoje não sou dos que mais gosta de ordens, algo que é bom mudar rápido, tendo em vista meu emprego).

Mas voltando, eu, claro, não conseguia manter as notas altas não estudando. Resultado é que passei mais de 3/4 da minha adolescencia e final de infancia de castigo. Nunca apelei pra drogas ilícitas, nada. Álcool de vez em quando, cigarro e olhe lá. Mesmo assim, em pequenas quantidades, tudo. Mas muito do que eu tinha de bom foi se perdendo.

Não sou mais tão otimista como era, o que acaba me deixando chato em muitos momentos, não penso mais tanto no coletivo, mas no individual, quase sempre. Tem ainda um medo enorme de me decepcionar com as pessoas, que me faz ser muito, mas muito desconfiado.

Meus pais erraram querendo acertar? Certeza que sim. Mas não é um erro legal ainda por cima porque não admitem

Seria errado jogar todos os meus defeitos nos ombros deles, tenho uma grande culpa de não ter sido forte suficiente, mas alguma marca, isso tinha que deixar...e deixou: raiva de autoridade em geral, medo de me decepcionar com quem eu gosto.

Muito disso tem melhorado, é claro. Não seria digno de estar vivo se não superasse os problemas. Mas que meus pais fizeram um mal danado, fizeram.

Amigos me deixam pra cima ao elogiar e serem as pessoas que eu converso. Elogiam quando eu mereço, criticam quando eu faço besteira. Por isso, meus amigos são muito mais do que família (apesar da minha melhor amiga estar na minha família). São o que consegue manter o equílíbrio em mim, me deixar um pouco mais feliz e bem menos cético em relação às pessoas que eu amo.

Meus amigos me fizeram ver que tem gente que vale muito a pena. Me aceitam com meus defeitos, me ouvem, me fazem rir quando estou triste.
Enfim, meus amigos fazem a minha vida.